quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

O bem mais precioso da escola - Por Paula Louzano

19/09/2011 09/02/2012
O bem mais precioso da escola
Paula Louzano

O uso do tempo e o manejo da sala de aula são aspectos fundamentais do trabalho docente. No entanto, estas habilidades são, na maioria das vezes, negligenciadas na formação de nossos professores. A falta destas habilidades no dia a dia faz com que muitos docentes tenham dificuldade em administrar o tempo dedicado ao ensino e à aprendizagem, ou mesmo em garantir o mínimo de disciplina de seus alunos em sala de aula.
Várias pesquisas têm demonstrado ser esta uma das debilidades de nosso ensino. O professor da Faculdade de Educação de Stanford, Martin Carnoy, em seu livro A Vantagem Acadêmica de Cuba: por que seus alunos vão melhor na escola (Ediouro e Fundação Lemann), avaliou a eficiência das aulas de matemática nas redes públicas do Brasil, Chile e de Cuba. O pesquisador descobriu que os alunos brasileiros gastam até oito vezes mais tempo copiando exercícios ou textos da lousa do que seus colegas cubanos e chilenos. Na prática, isso significa que enquanto estes últimos estão resolvendo problemas ou interagindo com o professor, os brasileiros fazem cópia.

Se não bastasse a predominância de práticas arcaicas e ineficientes, muitas vezes o professor tem dificuldades para conseguir a atenção de seus alunos. Um estudo do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), com dados de 2009, aponta que as salas de aulas brasileiras são mais indisciplinadas do que a média dos países avaliados. Para quase 40% dos alunos de 15 anos que fizeram a prova há barulho e bagunça na sala de aula e todos ou a grande maioria de seus professores espera muito tempo para começar a aula.

Segundo o educador Doug Lemov, autor de Aula Nota 10: 49 técnicas para ser um professor campeão de audiência (Da Boa Prosa e Fundação Lemann), o tempo é o bem mais precioso da escola e deve ser muito bem administrado. Isso passa não só por um planejamento impecável da aula, que permita o uso produtivo e relevante desse tempo, mas também pela criação de um ambiente escolar voltado para a aprendizagem que garanta o engajamento de todos os alunos. Sem dúvida parece bem mais fácil falar do que fazer, mas a experiência dos professores retratados no livro de Lemov – e também nos relatos apresentados nas reportagens da série “Aula Nota 10”, da revista Profissão Mestre – mostra-nos que isso é possível. Essas habilidades não são um dom que alguns professores têm e outros não. Essas práticas podem ser ensinadas e aprendidas por nossos professores. E se hoje nossas salas de aula sofrem dessas mazelas é porque muitos de nossos docentes não sabem como fazer para melhorar. Enquanto esse tipo de saber não é valorizado e ensinado nos nossos cursos de formação inicial, é importante aprender com nossos bons professores.

A boa notícia é que eles existem.
 O que as pesquisas também mostram é que há muita variação nas práticas docentes não só dentro de um mesmo país ou rede, mas também dentro de uma mesma escola. Assim como existem professores que utilizam a cópia como principal técnica de trabalho e têm dificuldades de manter a disciplina, outros conseguem envolver os alunos em atividades estimulantes e desafiadoras. Aprender com eles é nosso desafio. Que tal pedir para assistir a aula de seu colega para saber como ele resolve alguns desafios em sala de aula?

Texto publicado na edição de setembro de 2011 da revista Profissão Mestre.
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