segunda-feira, 27 de junho de 2011

Gestão Escolar - Diferencial para uma Educação de Qualidade





Gestão Escolar - Diferencial para uma Educação de Qualidade

Qual é o profissional mais importante para que se efetive em termos práticos a educação de qualidade que todos almejam? Se sua resposta foi o professor, tenha certeza que ele também é fator decisivo, verdadeiramente primordial para que isso aconteça, mas por incrível que pareça, pesquisas conduzidas no Brasil e no mundo têm atestado a importância maior dos gestores escolares para que se efetive um trabalho realmente qualificado nas salas de aula de qualquer localidade.

Investimentos na formação dos gestores são, conforme dados da Fundação Lehman, normalmente muito mais eficazes para alterar positivamente o rumo dos acontecimentos no âmbito escolar que qualquer dinheiro investido no aperfeiçoamento dos docentes. E isto numa base matemática equivalente a 5 vezes mais resultados favoráveis para cada centavo gasto com gestores do que com educadores.

No entanto, a maior quantidade de recursos públicos investidos na formação de profissionais das redes municipais, estaduais e federais é vertida em bases inversamente proporcionais em cursos e atualizações para os professores, com a carga destinada a gestores sendo bastante reduzida.

Simplificando este raciocínio podemos afirmar que se gasta muito mais com professores para sua especialização, aperfeiçoamento e atualização do que com gestores da educação, como diretores, coordenadores, orientadores e mesmo o staff que gerencia as redes públicas municipais e estaduais em nosso país. E, como complemento, concluir que o dinheiro gasto com os gestores representa mais benefícios para as escolas do que qualquer investimento feito em relação aos professores.

Isto quer dizer que os investimentos na formação de professores devem acabar e, em substituição a estes o dinheiro deve ser revertido para o aperfeiçoamento dos gestores?

Não é isto que estamos dizendo e defendendo neste artigo... Acreditamos que ambos os grupos de profissionais da educação, gestores e professores, são importantíssimos para que se efetive no Brasil uma Educação de Qualidade.

Para que isto aconteça cremos ser necessária a continuidade de investimentos para a formação dos docentes, mas advogamos em prol de maior dispêndio em relação aos gestores nem que, para que isto aconteça, se divida melhor o manancial de recursos destinados a esta finalidade formativa.

Não há dados exatos quanto à partilha dos investimentos relativos à formação dos profissionais da educação, mas certamente aos professores é destinado percentual que supera – com larga vantagem – o custeio de cursos e atualizações para os gestores. Seria sensato crer que, em termos de dados numéricos, a vantagem seja de 8 e até mesmo 9 reais investidos nos professores para cada 1 ou 2 reais destinados aos gestores.

E como estou apresentando uma informação pautada apenas no exame superficial de dados relativos aos gastos de alguns municípios e estados brasileiros quanto a investimentos em novas tecnologias e metodologias de ensino aplicadas às escolas, normalmente envolvendo formações destinadas a professores, e verificando que aos gestores há muito menos opções, a situação pode ser ainda pior do que a mencionada...

Mas por que, de repente, se sentiu a necessidade de reforçar as bases da ação dos gestores escolares, dando-lhes mais subsídios com estas formações e atualização de conhecimentos?

Para melhor entender esta questão é importante primeiramente identificar o perfil dos profissionais que atuam na gestão de nossas redes e escolas públicas (assim como também nas particulares). Neste sentido, vale destacar que normalmente quem é alçado a condição de secretário de educação, diretor de escola ou coordenador pedagógico, por exemplo, na maioria dos casos é um destacado professor que teve seus esforços em sala de aula reconhecidos por alguém hierarquicamente superior ou por seus colegas de escola ou rede.

É, portanto, algum profissional graduado em pedagogia ou em licenciaturas (matemática, letras, história, geografia...) que tem qualidades tais quais: liderança, organização, conhecimento de educação, capacidade de inovar, carisma, habilidades comunicativas e respaldo entre os colegas e os estudantes. Por vezes todas estas características podem ser encontradas num professor que se tornou gestor, mas na maioria dos casos, estes profissionais possuem algumas destas qualidades e não todas.

O problema maior reside no fato de que estes profissionais, mesmo levando-se em conta todos os seus méritos e qualidades, passaram por formação universitária deficiente, que não lhes legou possibilidades e ferramentas necessárias e suficientes para se tornarem gestores. São pessoas que conhecem educação, suas escolas ou redes, comunicam-se bem, são relativamente organizadas, têm perfis de líderes, mas que não tiveram acesso na universidade a cursos especialmente devotados à gestão de instituições, públicas ou privadas, de ensino ou de qualquer outra área de atuação.

Não basta ser carismático ou ter evidentes características de liderança... Os gestores precisam organizar dados, ler as informações disponíveis e analisá-las para definir prioridades e prerrogativas, delegar funções, cobrar efetividade de seus comandados, reunir e administrar reuniões, lidar com prazos e urgências, relacionar-se com diferentes públicos e necessidades (professores, pais, funcionários, alunos...), planejar e definir metas, gerir de forma participativa e democrática o seu reduto educacional, conhecer legislação específica e geral, administrar recursos financeiros públicos...

Tudo isto exige, certamente, preparo e adequação que não são componentes da formação universitária destes profissionais e, encontrar as respostas no cotidiano leva a reutilização de práticas já usuais no setor ou de definição de ações a partir do senso comum, desprezando-se as técnicas de gestão necessárias e fundamentais para esta finalidade.

Não se despreza com este posicionamento tudo aquilo que os profissionais que atuam na gestão escolar possuem de conhecimento e experiência, mas espera-se que se constate a necessidade de adicionar a todos os saberes anteriormente adquiridos na academia ou na práxis as informações e ações relacionadas à administração de instituições de acordo com os ensinamentos provenientes de especialistas em administração.

O que se pretende com esta constatação é, apenas, concluir como necessário que o capitão do navio conheça não apenas todas as prerrogativas e ações próprias de seus marujos, mas que saiba como dar rumo, evitar motins e rebeliões, organizar as ações de seus comandados em comum acordo com eles (mas fazendo valer sua posição e opinião), respeitar os prazos de partida e chegada, prover com os necessários recursos os passageiros e os tripulantes...

Tudo isto para que, no final, a viagem tenha sido bem sucedida, com o mais elevado nível de satisfação tanto dos clientes internos quanto dos externos, ou seja... Atingindo os melhores resultados possíveis... Se não é fácil diferenciar o capitão do navio de seus tripulantes, como então seria possível realizar a melhor viagem como desejado? Nas escolas não é diferente...

João Luís de Almeida Machado Doutor em Educação pela PUC-SP; Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP); Professor Universitário e Pesquisador; Autor do livro "Na Sala de Aula com a Sétima Arte – Aprendendo com o Cinema" (Editora Intersubjetiva).

Fonte: http://www.planetaeducacao.com.br/portal

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